Há vinte e quatro anos, vi-me presa no meu primeiro relacionamento abusivo. Durante quatro longos anos, sofri abusos físicos, emocionais, morais e sexuais. Quando finalmente consegui escapar, estava grávida de três meses e tive de enfrentar o mundo sozinha. Apesar de ter abandonado a relação, não recuperei verdadeiramente do trauma e, anos mais tarde, vi-me em mais uma relação abusiva – desta vez, marcada pela manipulação emocional da qual demorei mais de uma década a escapar.
Ao longo destes relacionamentos, fui consumida pela insegurança, pela dor e pela crença avassaladora de que teria de sacrificar o meu bem-estar para fazer as coisas funcionarem. Os bons momentos foram ofuscados pelo medo, pela culpa e pelo sentido do dever de suportar o sofrimento. No fundo, sabia que algo estava errado, mas não tive forças para me ir embora. O medo de enfrentar outro relacionamento falhado e a grande pressão para que resultasse mantiveram-me presa.
Em ambos os casos, fui-me embora para sobreviver – para salvar a minha vida e a do meu filho. Mas partir foi apenas o primeiro passo. O verdadeiro desafio foi encontrar forças para curar, especialmente quando as pessoas à minha volta não conseguiam compreender completamente o que eu estava a passar.
Lutei contra a vergonha de enfrentar mais uma relação falhada e a dificuldade de decidir ir embora.
A minha jornada para a cura começou com a conquista de consciência. Percebi que o processo de cura tinha de começar por dentro. Precisava de enfrentar as minhas feridas emocionais e começar o árduo trabalho do autocuidado. Foi um processo difícil olhar para dentro e reconhecer as fraturas emocionais que precisavam de ser reparadas. A minha vida disfuncional impulsionou-me a procurar respostas e, através do coaching, ganhei clareza para compreender o que se estava a passar comigo. Este foi o início do meu processo de cura.
Hoje estou em paz, mas a minha jornada de cura continua. Compreendi que sou responsável pelo que acontece na minha vida e assumi o controlo do meu destino. Conheço-me agora e aprendi a amar quem sou. A minha autoimagem melhorou e, com ela, a minha autoestima.
Se está a passar por uma situação semelhante, saiba que há ajuda disponível. Nem sempre é possível navegar sozinho nesta viagem. A confusão emocional pode ser avassaladora, mas existem especialistas que compreendem o que está a passar e podem ajudá-lo a encontrar o caminho para a cura. Invista na sua recuperação.
Agora, como mentora de mulheres que sobreviveram a relações abusivas, ajudo-as a tomar consciência das suas situações e oriento-as no caminho da cura emocional. A minha missão é capacitar outras mulheres para que recuperem as suas vidas, tal como eu recuperei a minha.
Esta é a minha história de superação e espero que inspire outras pessoas a dar o primeiro passo em direção à cura e à auto-capacitação.
A Denise é participante activa em eventos e iniciativas organizadas pela Femme Incroyable em Angola. Conduz workshops e dá palestras na nossa comunidade de mulheres, partilhando as suas experiências e perceções sobre como superar relações abusivas. Através destas sessões, a Denise fornece uma orientação e inspiração inestimáveis, ajudando outras mulheres a reconhecer o seu valor e a encontrar forças para recuperar as suas vidas. As suas contribuições estão a capacitar inúmeras mulheres para se libertarem do ciclo de abuso e construírem um futuro melhor para si e para as suas famílias.
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